17/08/2018: Suicídio, guerras religiosas e ambições: direto da Broadway, Pippin traça um paralelo com a realidade
Quando estreou, em 1972, Pippin causou uma revolução na Broadway por inovar na estrutura e ainda apostar na metalinguagem. O musical, vencedor de cinco Tony Awards, possui dois níveis de narrativa, sendo que o primeiro conta a fábula do herdeiro do trono do Rei Carlos Magno
que está em uma jornada existencial pelo sentido da vida, enquanto o
segundo mostra uma trupe teatral interpretando esta história. “Esta peça
continua sendo ousada e tem um fundamento, além da diversão. Claro que
são tempos um pouco diferentes, mas não tanto, infelizmente”, lamentou Nicette Bruno.
Apesar de parecer um tema superficial, o espetáculo fala sobre
suicídio, guerras religiosas, ambições, sexo, drogas e muito mais
enquanto o protagonista Pippin tenta entender qual o seu lugar no mundo.
Todas estas polêmicas dramáticas juntas conseguem aparecer ao mesmo em
que o espetáculo esbanja humor ácido e alegria. O site HT, inclusive,
conferiu os primeiros minutos desta montagem e já podemos adiantar que o
público pode esperar coisas grandiosas deste elenco formado por Nicette
Bruno, Totia Meireles, Felipe de Carolis, Jonas Bloch e Adriana Garambone.
Pippin está de volta aos palcos graças à aposta de Charles Möeller e Claudio Botelho, dupla responsável por levantar grandes musicais no Brasil como Cinderela e A Noviça Rebelde.
De acordo com o diretor Charles, a vontade de montar este espetáculo já
é antiga pelo fato dele tocar em pontos muito atuais. No entanto,
demorou quase cinco anos para conseguir levantar verba suficiente. Sendo
assim, esta peça é fruto de muita determinação. “Tem espetáculos que
saem mais rápidos e outros que demoram mesmo. Exatamente por isso que é
necessário ter um grande cartel de títulos para ir captando aos poucos.
Não dá para desistir só porque o país entrou em falência e a cidade está
em uma guerra civil. Este discurso é acomodado”, explicou. Vendo o
cenário atual da nossa sociedade, o diretor até agradece por ter
demorado mais que outras produções. “Quando este musical foi montado, os
estadunidenses estavam vendo uma guerra televisionada que virou
entretenimento. Além disso, a Broadway estava violenta, indo muito para o
lado da prostituição e das drogas. Tanto que as pessoas fizeram um
cartaz que dizia ‘não venham para Nova York’. Se traçarmos um paralelo
com o Brasil de hoje é exatamente isto que está acontecendo. Este, de
fato, é o melhor momento para PIPPIN estrear. Há cinco anos, a violência
não era tão grande, as redes sociais não eram tão importantes e havia
uma esperança de um Brasil melhor com as chegada das Olimpíadas e da
Copa”, criticou Charles.
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Para iniciar o debate por estas polêmicas, a figura do príncipe
herdeiro se torna essencial para o espetáculo. Afinal, ele não se
acostuma com as limitações da vida mundana. “Adoro este personagem por
questionar e não se acomodar com a vida. Ele quer algo extraordinário e
morar em uma casa com uma cerca branquinha não é este ideal para ele.
Enquanto isso, estamos em uma sociedade superficial na sua essência.
Estamos perdendo contatos básicos como falar e olhar. Esta busca do
personagem acaba nos fazendo refletir sobre o que é esta felicidade
estabelecida”, explicou Charles. Sendo assim, Pippin questiona todos os
costumes da atualidade como, por exemplo, a dependência das redes
sociais que seria a metáfora desta superficialidade elencada pelo
protagonista. “Será que as pessoas conseguem ser felizes sem o filtro do
instagram? É um questionamento muito contundente da minha geração.
Antigamente, quem postava foto de prato era cafona. Hoje em dia, a gente
fala ‘nossa, a pessoa está em tal restaurante’. Mas e daí? Não sou
contra este tipo de coisa, mas a vida não poder ser somente isto”,
comentou Felipe de Carolis, que faz o protagonista .
A partir do momento que o protagonista começa a busca por algo mais, a
possibilidade de não encontrá-la também se torna uma realidade. Dessa
forma, uma das principais motivações desta peça é, de fato, falar sobre o
suicídio, afinal, o príncipe herdeiro está tentando encontrar um motivo
para viver. Apesar de aparentemente ser uma busca filosófica, ela sai
do ideal. O espetáculo questiona um ponto chave: a falta de uma razão
faria com que a morte fosse a solução? “A minha vontade de fazer este
espetáculo veio do fato de que a Geração Millenium está
alcançando o maior índice de suicídio dos últimos tempos. De acordo com
uma pesquisa, daqui a oito anos, o suicídio será a maior causa de mortes
no mundo. Isto me preocupa muito”, lamentou Felipe.
Outro tema importante elencado pelo espetáculo é a ambição que pode
levar, até mesmo, a guerras religiosas. Isto pode ser visto na figura do
rei Carlos Magno, um homem extremamente cruel que, em nome do
Cristianismo, matou muitas pessoas. Este personagem é o extremo oposto
de seu filho, o príncipe herdeiro, por ser mais pé no chão e
extremamente cruel. “É aquele tipo de pessoa que acredita que ser
vitorioso é vencer batalhas e matar pessoas, apesar de ser um homem
cristão. Vemos religiosos que o dinheiro sobrepõe aos seus princípios.
Isto é exatamente o que está acontecendo hoje com uma facção islâmica. O
sentido da vida, para este rei, é o poder, algo que também é muito
comum no nosso país. Não importa se morre gente nos hospitais ou se
falta merenda escolar, pois é fundamental aumentar a riqueza
individual”, criticou Jonas Bloch.
Apesar de não ser tão polemico, outro personagem importante do musical é a Mestra de Cerimônias.
Ela é responsável por conduzir toda a trama, está presente em todas as
cenas e, em alguns momentos, ainda se torna a dona da trupe teatral, uma
mulher grossa com os artistas e gentil com o público. Nesta montagem,
esta protagonista é vivida por Totia Meireles. “A parte mais difícil
desta personagem é ter que costurar o espetáculo inteiro. Eu chamo os
atores para a cena e comando tudo. Se começo mal, a peça tende a não
andar na linha. Preciso estar focada o tempo inteiro”, afirmou a atriz.
Para melhorar a sua atuação nos palcos, Totia ainda fez aulas de dança e
canto, afinal, ela precisa estar o tempo todo ligada e preparada. “Tive
que acordar a bailarina que existe dentro de mim, as coreografias
exigem muito, tem muito detalhe. Isto faz com que a gente precise ter um
domínio muito grande do corpo”, contou.
O espetáculo fala de sexo, drogas, busca espiritual, guerras
religiosas e diversos temas polêmicos, como falado anteriormente. Mas,
ao mesmo tempo, Pippin conta com o viés do humor e da dança, que são
personificados nas figuras de Nicette Bruno e Totia Meireles. Isto
mantém uma leveza especial, mesmo tratando de assuntos conturbados. “É
óbvio que não tem como o musical ficar o tempo todo no buraco, porque,
afinal, tem danças e músicas”, explicou Felipe. As músicas conseguem
levantar a trama para que não se torne uma peça dramática. “É uma
maneira de dizer as mesmas coisas de outro jeito”, comentou Jonas Bloch.
Para animar a peça, a música e as coreografias são elementos
fundamentais e, para isso, o diretor Charles Möeller conta com um elenco
grandioso de 19 atores, algo pouco comum de se ver nos espetáculos que
estão feitos no Brasil. “Ter tanta gente em cena é realmente uma
coragem. Antigamente era mais possível, mas com o tempo fomos sendo
impedidos de montar isto. Estamos esperançosos de que o público
prestigie mais as peças e que as companhias possam realizar os seus
trabalhos de forma mais ampla, independente de auxílio ou ajuda. Fazer
teatro é um ato de resistência no nosso país”, lamentou Nicette. Apesar
de não ser tão comum, o diretor está acostumado a fazer trabalhos assim,
afinal, A Noviça Rebelde tem cerca de 200 pessoas em volta. “Musical é
sempre grandioso. Tem que ter a música, a iluminação, a orquestra, o
figurino, entre outros. É preciso de muita grana para levantar isso. Tem
que ter patrocinadores, exatamente por isso que São Paulo tem mais
teatro. Mesmo que a gente lote a casa, a bilheteria não vai pagar o
custo disso. Estamos muito felizes de conseguir estrear este espetáculo
no Rio de Janeiro”, comemorou Totia.
PIPPIN
Um espetáculo de CHARLES MÖELLER & CLAUDIO BOTELHO
Texto de ROGER O. HIRSON
Música & Letras de STEPHEN SCHWARTZ
Com Felipe
de Carolis, Totia Meireles, Nicette Bruno, Jonas Bloch, Adriana
Garambone, Cristiana Pompeo, Guilherme Logullo, Luiz Felipe Mello, Analu
Pimenta, Bel Lima, Bruninha Rocha, Daniel Lack, Flavio Rocha, Jéssica
Amendola, João Felipe Saldanha, Paulo Victor, Rodrigo Cirne, Sérgio
Dalcin e Victoria Aguillera.
CHARLES MÖELLER
Direção
Direção
CLAUDIO BOTELHO
Versão Brasileira
Versão Brasileira
JULES VANDYSTADT
Direção Musical
Direção Musical
ALONSO BARROSCoreografia
ROGÉRIO FALCÃO
Cenário
Cenário
LUCIANA BUARQUEFigurinos
MARCELO CLARETDesign de Som
ROGÉRIO WILTGENIluminação
BETO CARRAMANHOS
Visagismo
Visagismo
TINA SALLESCoordenação Artística
CARLA REISProdução Executiva
Apresentado por: Ministério da Cultura e Bradesco Seguros
Patrocínio: Multiplus
Realização: M&B e E_MERGE
SERVIÇO
De 03 de agosto a 21 de outubro de 2018
Teatro Clara Nunes – Shopping da Gávea
Quintas, às 17h. Sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 19h30.
Classificação indicativa: 12 anos
Ingressos:
Quintas (17h) e Sextas (21h): R$ 50 (balcão) e R$ 80 (plateia)
Sábados (21h) e Domingos (19h30): R$ 70 (balcão) e R$ 120 (plateia).
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