25/11/2015: Crítica Folha de São Paulo - "Elenco feminino garante humor a versão teatral de Almodóvar"
Como diretor, ator, tradutor, letrista e autor, Miguel Falabella não
saiu do palco neste ano, sempre em algum musical. Ganhou prêmio.
Mas “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, que ele “apenas”
traduziu e dirige, se mostra às vezes uma tal balbúrdia que a ambição
parece ter finalmente vencido sua capacidade de trabalho –de dar alguma
direção, algum norte ao musical americano de 2010, baseado no filme
espanhol de 1988.
Mistura a comédia rasgada da Pepa de Marisa Orth com
a voz pungente da Lúcia de Totia Meireles, ambas muito bem, mais meia dúzia de personagens femininas bastante expressivas, mais um galã machista, um narrador tornado guia turístico de Madri e um cenário móvel, que atravessou a apresentação prestes a parar e inviabilizar tudo.
a voz pungente da Lúcia de Totia Meireles, ambas muito bem, mais meia dúzia de personagens femininas bastante expressivas, mais um galã machista, um narrador tornado guia turístico de Madri e um cenário móvel, que atravessou a apresentação prestes a parar e inviabilizar tudo.
A impressão não é só de mulheres, mas de um espetáculo à beira de um ataque.
Falabella é responsável pelo cenário megalomaníaco, inexistente na versão inglesa em que se baseou, mas também pelo elenco, que não poderia ser mais adequado para as muitas vertentes teatrais presentes.
Falabella é responsável pelo cenário megalomaníaco, inexistente na versão inglesa em que se baseou, mas também pelo elenco, que não poderia ser mais adequado para as muitas vertentes teatrais presentes.
Marisa Orth, como uma mulher abandonada pelo amante, aproveita a
experiência de shows cômico-musicais, tanto nas bandas Vexame e Luni
como nos solos mais recentes, para a interpretação das canções latinas
algo cafonas do compositor americano David Yazbek.
Mas se dá bem mesmo é nas cenas abertamente farsescas, à Georges
Feydeau (1862-1921), citado no texto. Remete indiretamente à série
cômica que a atriz e Falabella gravaram durante anos, “Sai de Baixo”, no
mesmo palco.
Mas Pedro Almodóvar, ao falar de seu filme célebre, relata que partiu
não de Feydeau, mas de um drama de Jean Cocteau (1889-1963), “A Voz
Humana”, monólogo em que uma mulher conversa pelo telefone com o homem
que a abandonou.
Embora também engraçada em muitos momentos, quem embarca mais no drama –e leva com ela o espectador– é Totia Meireles, que faz a mulher abandonada muitos anos antes pelo marido. É dela o grande quadro musical de “Mulheres”.
Juan Alba, como Ivan, ex-amante de uma e ex-marido da outra, convence no papel e surpreende pela voz.
Mas este é um musical de mulheres –não muito diverso de “Nine”, até
recentemente em cartaz– e quem ameaça roubar a cena das duas
protagonistas são comediantes-cantoras como Helga Nemeczyk, que já havia
chamado a atenção em “Mudança de Hábito” e que aqui faz Candela.
Consegue ser tão despachada e engraçada quanto Marisa Orth, fazendo
correr a farsa, e ombrear com Totia Meirelles nas canções em que a
comédia é suspensa e dá lugar à introspecção.
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