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A Rainha-Mãe

O Estado de São Paulo – Ubiratan Brasil – 14/07/10

O produtor teatral David Merrick folheava a revista Harper”s quando ficou boquiaberto com um artigo: era um capítulo do livro de memórias da lendária stripper Gypsy Rose Lee, publicado naquele mesmo ano de 1957. Trata-se de uma história extraordinária, sobre a menina que, ao lado da irmã, era empurrada pela mãe obsessiva para uma improvável carreira de sucesso no teatro de vaudeville, mas, por conta das circunstâncias, tornou-se famosa em “shows para adultos”. De posse do material, Merrick convocou uma trinca de ouro (o escritor Arthur Laurents, o diretor e coreógrafo Jerome Robbins e o compositor Stephen Sondheim), que já grafara seu nome na história da Broadway dois anos antes com o clássico West Side Story, para criar um grande musical. Assim nasceu Gypsy, que se tornou eterno já em sua estreia em 1959 e cuja versão nacional chega ao Teatro Alfa a partir do dia 23, em uma realização da Aventura Entretenimento.

“Era um clássico que há anos pretendíamos montar no Brasil”, conta o diretor Charles Möeller, responsável pela montagem ao lado de Claudio Botelho. “E, por se tratar de um dos maiores espetáculos da história da Broadway, encaramos como o maior desafio da nossa carreira.” Não é exagero – durante cerca de três horas, a trajetória da mãe e suas duas filhas em busca do glamour é pano de fundo para apresentar a profunda mudança de perfil do show biz americano durante a Grande Depressão, iniciada nos anos 1930, quando o vaudeville e seus espetáculos mais ingênuos perderam espaço para o burlesco, com seu traço mais erótico.

Curiosamente, essa modificação não é revelada com a ascensão de Gypsy, a menina sem graça que se transforma na mulher que passa a ter os homens a seus pés, mas a partir da trajetória da inescrupulosa matriarca, Mamma Rose, cujo sonho de glamour para as filhas se transforma em frustração. É justamente esse detalhe que foi decisivo na carreira do musical – para o temido crítico de teatro do New York Times, Frank Rich, Gypsy seria “a resposta do teatro americano a Rei Lear, de Shakespeare”. Para ele, se Lear vive uma relação conturbada com suas três filhas, Mamma Rose (aqui interpretada por Totia Meireles) não se cansa até transformar uma de suas filhas – inicialmente June (Renata Ricci) e, depois, Louise/Gypsy (Adriana Garambone) – em uma grande estrela do teatro de variedades. E, no final, tal qual Lear, a mãe sente-se abandonada.

Para representar um furacão como Mamma Rose, portanto, era preciso uma atriz de qualidades elásticas. Na estreia americana, em 1959, a dinastia foi iniciada pela voz potente de Ethel Merman, seguida de Angela Lansbury, Rosalind Russell, Betty Midler, Tyne Daly, Bernadette Peters até chegar a Totia Meireles, surpreendente a cada segundo que está em cena – com um senso de humor que une simpatia e aspereza, uma forte entonação que magnetiza a atenção do espectador e, principalmente, uma voz potente e cristalina capaz de reproduzir todos os meandros das letras de Sondheim e a melodia de Jule Styne, Totia assume características das grandes personagens femininas da escrita mundial (o tormento de Blanche Dubois, o sonho frustrado de Bernarda Alba, a ambição de Lady Macbeth) para transformar Mamma Rose em um personagem sagrado.

“É uma mulher tragicômica, que permite ousadias na interpretação”, conta ela, que precisou fazer corrida e a musculação para garantir o fôlego necessário para as canções e o turbilhão de frases disparadas por Mamma Rose. “Mais que o físico, minha preocupação era com o cansaço vocal, pois temia chegar sem voz na apresentação de domingo à noite.” Assim, começou a exercitar as cordas vocais a fim de mantê-las intactas até a última sessão da semana – e, durante a temporada de sucesso no Rio, Totia não decepcionou nenhuma vez, a ponto de ser indicada para o prêmio de Shell de teatro na categoria de atriz, junto de Marcelo Pies (figurino) e a dupla Flávio Salles e Janice Botelho (remontagem, adaptação e criação das coreografias).

Humor. Tamanha dedicação é necessária. Afinal, segundo Claudio Botelho, Gypsy é uma das obras mais sólidas da dramaturgia musical jamais escritas. “E, mesmo que apenas como letrista, Sondheim deixa ali sua assinatura”, comenta. “São letras cínicas, ferinas, de um humor cortante e, sobretudo, de uma paixão avassaladora pelos personagens a que servem. Em Gypsy, Sondheim esbanja sua juventude como letrista genial e subverte toda e qualquer expectativa do ouvinte com rimas jamais tentadas na língua inglesa e soluções poéticas que o tornaram definitivamente o maior letrista do teatro musical americano dos últimos 50 anos.”

Charles Möeller lembra também que o musical brinca com símbolos sagrados americanos como a águia e Tio Sam. “E ainda apresenta a mãe como uma mulher amorosa mas sem escrúpulos. Um verdadeiro escândalo na década de 1950.”


QUEM É STEPHEN SONDHEIM 
LETRISTA
Nascido em 1930, começou jovem como autor das letras de musicais clássicos como West Side Story (1957) e Gypsy (1959). Logo, se tornou um dos mais completos e conhecidos autores do musical americano, criando outras obras renomadas como Company (1970) e Into The Wood (1987), que também será montado no Brasil.

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